A Bolívia, antes da solidariedade, quer que o Brasil cumpra os contratos

Dias desses o presidente Lula afirmou que mesmo quando auto-suficiente em gás natural, o Brasil seguirá comprando o produto da Bolívia como forma de ajudá-lo, pois trata-se de um dos países mais pobre da região e que precisa do apoio do seus vizinhos para desenvolver-se. Não tenho dúvidas de que o presidente brasileiro jamais quis ofender o povo boliviano. Ao contrário, na minha avaliação ele quis reforçar a importância da solidariedade entre quem tem um pouco mais e quem não tem quase nada. E não é que "Suas Excelências" bolivianas sentiram-se com o orgulho ferido e reclamaram. De forma sutil e irônica, mas reclamaram. Disseram que antes da solidariedade existe um contrato que deve ser cumprido. E que é isso que a Bolívia quer, que o contrato firmado com o Brasil para o fornecimento de gás seja cumprido à risca. Concordo! No entanto, está máxima deve valer para ambos os lados. "Suas excelências" bolivianas devem ter memória fraca. Esqueceram-se que o Brasil, antes deste que se encontra em vigor, já possuia um contrato assinado que foi alterado após a invasão - descabida e sem sentido -, por militares armados até os dentes, das instalações da Petrobrás naquele país. O Planalto reagiu a esta situação com bom senso e negociou um reajuste dos valores. Mas a confiança ficou abalada, sobretudo dentre o empresariado brasileiro. Por isso, muitos trataram de buscar um "combustível alternativo" para tocar a sua produção. E o consumo do gás boliviano caiu. Evo Morales, presidente do país vizinho, pôs a boca no trombone. A grana da venda do produto para o Brasil faz uma falta danada no caixa de La Paz. Contratos, é verdade, eles têm razão, são feitos para serem cumpridos. No entanto, podem também, no meio do percurso, serem rescindidos unilateralmente. Não acredito que tal ocorra, mas esta é uma possibilidade, em razão das recentes descobertas brasileiras, que "Suas Excelências" bolivianas devem considerar. E mais, este é o último ano do presidente Lula no Planalto e, de repente, o seu sucessor pode ter uma outra percepção da palavra "solidariedade" e aplicá-la de forma distinta. Acho que "los hermanos" sem mar precisam também pensar neste ponto.

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